sábado, 13 de outubro de 2012

Rainha de Sabá

Rainha de Sabá

A rainha de Sabá (em ge'ez: ንግሥተ ሳባ, transl. Nigista Saba, em hebraico: 'מלכת שבא, transl. Malkat Shva, em árabe ملكة سبأ‎, transl. Malikat Sabaʾ) foi, na Torá, no Antigo e no Novo Testamento, no Alcorão, na história da Etiópia e do Iêmen, uma célebre soberana do antigo reino de Sabá. A localização deste reino pode ter incluido os atuais territórios da Etiópia e do Iêmen.




Conhecida entre os povos etíopes como Makeda (em ge'ez ማክዳ, transl. mākidā), esta rainha recebeu diferentes nomes ao longo dos tempos. Para o rei Salomão de Israel ela era a "rainha de Sabá". Na tradição islâmica ela era Balkis ou Bilkis. Flávio Josefo, historiador romano de origem judaica, a chamou de Nicaula. Acredita-se que tenha vivido no século X a.C..

Na Torá, uma tradição que narra a história das nações foi preservada em Beresh't 10 (Gênesis 10). Em Beresh't 10:7 existe uma referênca a Sabá (Shva), filho de Raamá, filho de Cuxe, filho de Cam, filho de Noé. Em Beresh't 10:26-29 há uma referência a Sabá - listada ao lado de Almodá, Selefe, Hazarmavé, Jerá, Hadorão, Usal, Dicla, Obal, Abimael, Ofir, Havilá e Jobabe, como os descendentes de Joctã, filho de Héber, filho de Salá, filho de Arfaxade, descendente de Sem, um dos filhos de Noé. A questão sobre se a rainha de Sabá representaria uma ancestral dos hamitas ou dos semitas suscita debates passionais até hoje.

Em 8 de maio de 2008, a Universidade de Hamburgo anunciou oficialmente que arqueólogos alemães, depois de uma pesquisa comandada pelo professor Helmut Ziegert, descobriram os restos do palácio da Rainha de Sabá, datados do século X a.C., em Axum (Aksum), uma cidade sagrada da Etiópia, sob um antigo palácio real.

A rainha de Sabá no judaísmo e no Velho Testamento

De acordo com a Torá e o Velho Testamento, a rainha da terra de Sabá (cujo nome não é mencionado) teria ouvido sobre a grande sabedoria do rei Salomão de Israel, e viajado até ele com presentes de especiarias, ouro, pedras preciosas, e belas madeiras, pretendendo testá-lo com suas perguntas, como está registrado no Primeiro Livro de Reis (10:1-13) (relato copiado posteriormente no Segundo Livro de Crônicas, 9:1-12).

O relato prossegue apontando a rainha como maravilhada pela grande sabedoria e riqueza do rei Salomão, e pronunciando uma benção sobre a divindade do rei. Salomão respondeu, por sua vez, com presentes e "tudo o que ela desejou", após o qual a rainha retornou ao seu país. Aparentemente, a rainha de Sabá seria muito rica, já que ela teria trazido 4 toneladas e meia consigo para presentear ao rei Salomão (I Reis, 10:10).

Nas passagens bíblicas que se referem explicitamente à rainha de Sabá não há sinal de amor ou atração sexual entre ela e o rei Salomão. Os dois são descritos apenas como dois monarcas envolvidos em assuntos de estado.

Outro texto bíblico, o Cântico dos Cânticos, contém algumas referências que, por diversas vezes, foram interpretados como se referindo ao amor entre Salomão e a rainha de Sabá. A jovem mulher do Cântico dos Cânticos, no entanto, nega continuamente as insinuações românticas de seu pretendente, que muitos estudiosos identificaram com o rei Salomão. De qualquer maneira, não há nada que identifique esta personagem deste texto com a rainha estrangeira, rica e poderosa, descrita do Livro dos Reis. A mulher do texto da canção claramente indica umas certas "filhas de Jerusalém" como suas iguais.

A tradição etíope posterior afirma com segurança que o rei Salomão realmente seduziu e engravidou sua convidada, e possui um relato detalhado de como ele o fez (ver a seção posterior relevante), um assunto de importância considerável para o povo etíope, já que a linhagem de seus imperadores remontaria àquela união.

A rainha de Sabá no islamismo

O Alcorão, texto religioso central do islã, nunca menciona a rainha de Sabá por seu nome, embora as fontes árabes a chamem de Balqis ou Bilqis. O relato corânico é similar àquele da Bíblia; a narrativa conta como Salomão recebeu relatos de um reino governado por uma rainha cujo povo venerava o Sol. Ele enviou uma carta, convidando-a a visitá-lo e discutir sobre a sua divindade, relatada como sendo Alá), o Senhor dos Mundos (Alamin) no texto islâmico. Ela aceitou o convite e preparou enigmas para testar sua sabedoria e seu conhecimento. Então, um dos ministros de Salomão (que tinha conhecimento do "Livro") propôs trazê-lo o trono de Sabá "num piscar de olhos". Diante do feito, a rainha chegou à sua corte, mostrou-lhe seu trono, entrou no seu palácio de cristal e começou a fazer as perguntas. Impressionada por sua sabedoria, ela louvou sua divindade e, eventualmente, aceitou o monoteísmo abraâmico.

Visão no islamismo atual

Alguns acadêmicos árabes modernos têm identificado a rainha de Sabá como uma soberana de uma colônia ou entreposto comercial no noroeste da Arábia, estabelecido por reinos da Arábia Meridional.[carece de fontes?] As descobertas arqueológicas mais recentes confirmam o fato de que tais colônias realmente existiram, com achados como artefatos e inscrições no alfabeto arábico meridional, embora nada especificamente relacionado a Balkis ou Bilkis, a rainha de Sabá, tenha sido descoberto até agora.

A rainha de Sabá na cultura etíope



A familia imperial da Etiópia aponta sua origem a partir de um descendente da rainha de Sabá com o rei Salomão. A rainha de Sabá (em ge'ez ንግሥተ ሣብአ, transl. nigiśta Śab'a), é chamada de Makeda (ge'ez: ማክዳ) no relato etíope (que pode ser traduzido literalmente como "travesseiro").

A etimologia de seu nome é incerta, existindo duas correntes principais de pensamento divergindo sobre sua fonte etíope. Uma delas, que inclui o acadêmico britânico Edward Ullendorff, mantém que o nome seria uma corruptela de Candace, uma rainha etíope mencionada no Novo Testamento (Atos dos Apóstolos); a outra corrente liga o nome à Macedônia, e relaciona esta história com as lendas etíopes posteriores sobre Alexandre, o Grande e o período do século IV a.C.. Muitos acadêmicos, no entanto, como o italiano Carlo Conti Rossini, não se convenceram por nenhuma destas teorias, e declararam o assunto como ainda não-resolvido.
Uma antiga compilação de lendas etíopes, o Kebra Negast ("Glória dos Reis"), foi datada como tendo sido escrito há 700 anos, e relata a história de Makeda e seus descendentes. Neste relato o rei Salomão teria seduzido a rainha de Sabá e tido com ela um filho, Menelik I, que se tornaria o primeiro imperador da Etiópia.

A narrativa contida no Kebra Negast - que não encontra paralelo na história bíblica - é de que o rei Salomão teria convidado a rainha de Sabá a um banquete, servindo comida condimentada a induzi-la a ter sede, e convidando-a para passar a noite em seu palácio. A rainha pediu-lhe então que jurasse não a tomar à força. Ele aceitou com a condição de que ela, por sua vez, não levasse nada de seu palácio à força. A rainha assegurou que não o faria, ofendida pela insinuação de que ela, uma monarca rica e poderosa, precisaria roubar qualquer coisa. No entanto, quando ela acordou no meio da noite, sedenta, pegou uma jarra de água que havia sido colocada ao lado de sua cama. O rei Salomão então apareceu, avisando-a de que estava a descumprir sua promessa, ainda mais pelo fato de que a água, segundo ele, seria a mais valiosa de todas as suas posses materiais. Assim, enquanto ela saciou sua sede, ela libertou o rei de sua promessa, e passaram a noite juntos.

A tradição de que a rainha de Sabá bíblica teria sido uma soberana da Etiópia que visitou o rei Salomão em Jerusalém, no antigo Reino de Israel, é referendada pelo historiador romano de origem judaica Flávio Josefo, que identificou a visitante de Salomão como sendo "Rainha do Egito e da Etiópia".

Enquanto não existem tradições conhecidas de matriarcado no Iêmen durante o início do primeiro milênio a.C., as primeiras inscrições dos governantes de D'mt, no norte da Etiópia e da Eritréia, mencionam rainhas de status elevado, possivelmente até igual ao de seus reis.

Para a monarquia etíope, a linhagem salomônica e sabaítica tem considerável importância política e cultural. A Etiópia foi convertida ao cristianismo pelos coptas do Egito, e a Igreja Copta lutou por séculos para manter os etíopes numa condição de dependência e subserviência fortemente ressentida pelos imperadores etíopes.

A rainha de Sabá no cristianismo



Além de sua menção no Velho Testamento, a rainha de Sabá é mencionada, como Rainha do Sul, no Novo Testamento, quando Jesus Cristo indica que ela e os ninivitas julgarão a geração dos contemporâneos de Jesus, que o rejeitaram.

As interpretações cristãs das escrituras enfatizam, tipicamente, tanto os valores históricos quanto os valores metafóricos da história. O relato da rainha de Sabá é interpretado como uma metáfora e uma analogia cristã: a visita da rainha a Salomão foi comparada ao casamento metafórico da Igreja com Cristo, onde Salomão seria o "ungido" (Cristo), ou messias, e Sabá representaria uma população de gentios que se submeteu ao messias; a castidade da rainha de Sabá foi descrita como um presságio da Virgem Maria; e os três presentes que ela teria levado a Israel (ouro, especiarias e pedras) foram vistos como análogos aos presentes dos Três Reis Magos (ouro, incenso e mirra). Esta última analogia, em particular, é enfatizada como sendo consistente com uma passagem do Livro de Isaías (60:6): "todos virão de Sabá; trarão ouro e incenso e publicarão os louvores do Senhor."

Visão medieval

Entre as obras de arte realizadas na Idade Média que retratam a visita da rainha de Sabá estão o "Portal da Mãe de Deus", na Catedral de Amiens, do século XIII, incluída como analogia em parte de um painel maior que retrata os presentes dos Reis Magos.. As catedrais de Estrasburgo, Chartres, Rochester e Canterbury, do século XII, contêm interpretações artísticas da rainha em vitrais e bas decorações das jambas.

Visão renascentista



Giovanni Boccaccio, em sua obra Sobre as mulheres famosas (De mulieribus claris, em latim), segue o exemplo de Josefo ao chamar a rainha de Sabá de Nicaula. Boccaccio ainda afirma que ela não só era rainha da Etiópia e do Egito, como também da Arábia, e que relatos afirmavam que ela tinha um palácio luxuoso numa "ilha muito grande" chamada Meroe, localizada em algum lugar próximo ao rio Nilo, "praticamente no outro lado do mundo." De lá, Nicaula cruzou os desertos da Arábia, através da Etiópia e do Egito, pela costa do mar Vermelho, até chegar a Jerusalém, onde se encontrou com "o grande rei Salomão".

O livro Cidade das Damas, de Cristina de Pisano também chama a rainha de Sabá de Nicaula. Os afrescos de Piero della Francesca em Arezzo (1466) sobre a Lenda da Vera Cruz contêm dois painéis sobre a visita da rainha de Sabá a Salomão. A lenda ilustrada liga as vigas do palácio do rei Salomão à madeira utilizada na crucifixão. A sequência desta visão metafórica, do Renascimento, sobre a rainha de Sabá como uma analogia aos presentes dos Reis Magos, também está claramente evidente no Tríptico da Adoração dos Magos (1510), de Hieronymus Bosch. Bosch optou por retratar a rainha de Sabá e o rei Salomão no colar vestido por um dos magos.

O Doutor Fausto, de Christopher Marlowe, se refere à rainha como Sabá, quando Mefistófeles está tentando persuadir Fausto da sabedoria das mulheres com quem ele supostamente será presenteado todas as manhãs.

Descobertas arqueológicas recentes

Descobertas arqueológicas recentes feitas no Mahram Bilqis ("Templo de Bilkis"), em Ma'rib, no Iêmen, apoiam a tese de que a rainha de Sabá teria governado a Arábia Meridional, com evidências de que a área seria a capital do reino de Sabá.
Uma equipe de pesquisadores financiados pela American Foundation for the Study of Man (AFSM, "Fundação Americana para o Estudo do Homem") e liderada pelo professor de arqueologia da Universidade de Calgary, Bill Glanzman, vem trabalhando para decifrar os segredos de um templo de 3.000 anos de idade encontrado no deserto.

Eis a História de Sabá segundo os Etiópes no Livro de Tradicões Orais,o Livro dos Reis da Etiópia:
A rainha de Sabá era linda e sábia, e usou uma capa real com sete estrelas brilhantes. Então ela entrou em Jerusalém com uma imensa caravana de camelos, carregados de pedras preciosas, ouro e incensos aromáticos, como nunca havia sido visto em Israel e que não foi visto desde então.
Salomão saudou-a e perguntou:
-Por que você veio?
E ela respondeu:
-Ouvi que és o homem mais sábio da terra, e estava curiosa se seria mesmo.
E a rainha testou Salomão com vários enigmas inteligentes, mas ele respondeu a todas as perguntas, e, assim, diz a Bíblia:
“Satisfiz todos os meus desejos”.
Salomão era bem conhecido por ser um grande amante. Suas esposas e concubinas eram tantas que não dava para contar e amou muitas mulheres estrangeiras. Sabá concordou em ficar em seu palácio apenas se ele prometesse não tocá-la, e ele prometeu não tocá-la. Mas Salomão era astuto. Uma noite, ordenou um grande banquete com os alimentos mais picantes, e logo depois Sabá estava morta de sede. Pensando que ele estava dormindo, entrou no quarto de Salomão e roubo-lhe um vaso de água. Mas ele estava acordado e tomou-a nos braços.
“Você quebrou a promessa”, disse Sabá,”e agora pode tocar em tudo.”
E a levou para cama e fizeram amor. E naquela noite Sabá sonhou que uma luz se movia no céu desde a Etiópia até Israel. Quando a rainha de Sabá voltou à Etiópia, trouxe dois presentes especiais. O primeiro foi um anel de ouro, que Salomão lhe tinha dado, como símbolo de seu amor. O segundo foi o mais precioso: uma criança em seu ventre, seu filho com Salomão. Seu nome era Menelik que significa “filho do sábio.”Menelik se transformaria no rei da Etiópia,e o primeiro dos Leões da judeía,do que descenderiam todos os reis posteriores da Etiópia. E por causa de Menelik,uma nova Jerusalém foi construída na África. Quando Menelik cresceu, queria reunir-se com o seu pai, o Rei Salomão, então foi para Jerusalém e se apresentou perante o rei:
- Saudações, Sua majestade, de minha mãe, a rainha da Etiópia. ”ele disse.”Menelik I, seu filho.
Inicialmente Salomão duvidou do garoto e se recusou a aceitá-lo... Mas quando Menelik lhe mostrou o anel de ouro, a prova do amor que ele havia dado a Sabá. Salomão se rejubilou e convidou-o a ficar e governar com ele. Mas o coração de Menelik já estava na África junto com sua mãe, e insistiu em voltar pra casa. E com ele levou a relíquia mais preciosa do templo de Jerusalém, a Arca da Aliança.
Temos aqui um documentario da BBC que conta mais sobre a História dessa Mitica Rainha,que para os Etiópes é a Matriarca!
Parte 1
 
Parte 2
,
Parte 3
Parte 4
Fontes: Wikipedia/http://civilizacoesafricanas.blogspot.com.br/Youtube.
Edição e Postagem: Marcus García.






Moda da Savana

Moda da Savana

O guarda-roupa é a savana. No sul da Etiópia, jovens surma e mursi transformam flores em chapéus, folhas em xales. Com fantasias fantásticas, eles colocam colorido no cotidiano cinzento dos povos pastoris. O fotógrafo Hans Silvester rendeu-se a sua magia



Algumas flores e gramíneas presas por um cipó e um rosto pintado de amarelo tornam este menino inconfundível. Um candidato ao concurso de adereços de cabeça.



Nas testas as mesmas flores, bem arrumadas ou rebeldes. Os rostos cobertos com padrões de pintura, como se fossem trabalhos de Matisse e Miró. As cores, aplicadas com os dedos, os amigos obtiveram da mistura de pedra moída com argila.



Folhagens secas aproveitadas, e um novo enfeite de cabeça está pronto. Espetacular e ao mesmo tempo útil, porque serve como proteção contra o sol. O verde fresco do chapéu improvisado realça o perfil, das têmporas até o pescoço.



A "moda da natureza" dos surma e dos mursi se presta, principalmente, à representação de um povo. Da extravagância até o minimalismo ela conhece vários estilos - um deles demonstrado por este jovem, que aposta no vermelho de forma comedida, mas com efeito marcante.

Os meninos, enquanto não se tornam guerreiros, devem cuidar do gado. Isso lhes dá tempo de experimentar seu talento como artistas do adereço. Alguns mudam os adornos várias vezes ao dia, como atores que trocam os trajes durante os atos.



Tão espontaneamente quanto surgem, os frágeis adornos de cabeça se desintegram. São criações fugazes que um pé-de-vento desfaz - até que outras flores e gramíneas inspirem novos enfeites.



Brincos de latão, guirlandas de folhas e a pintura, que lhes confere apenas um pálido brilho na pele. O artista se encontra no umbral do mundo adulto, e parece que ele quer se diferenciar dos mais jovens por meio de um design mais simples.



É evidente que os três pertencem ao mesmo grupo. De comum acordo, eles se cobriram com plantas secas e folhagens - demonstração da amizade que os une.



Aproximadamente 20 povos vivem no vale do Rio Omo, no sul da Etiópia. Pastores nômades em sua maioria, eles frequentemente se encontram em pé de guerra: por água, pastos, armas. O fotógrafo Hans Silvester chegou por acaso a essa região distante - mas a ela retornou várias vezes, a fim de documentar a cultura das tribos.
O grande tema do fotógrafo, hoje com 70 anos, é a arte corpórea arcaica dos surma e dos mursi. Eles transformam sua pele em tela: profundas cicatrizes e pinturas cheias de motivos abstratos constituem adereços. E eles se divertem ao se enfeitar com gramíneas, folhas e frutos da margem do Omo - um constante jogo de transformação, agora descoberto também pelos turistas. Para as tribos, isso significa uma bem-vinda fonte de renda.



O próprio Silvester teve de pagar por suas fotos. Para ele, a espontaneidade dos protagonistas parece não ter sofrido com isso: os surma e os mursi se mostraram "com a naturalidade e o orgulho característicos das pessoas do vale do Omo".

.:: Revista Geo

O Deserto de Afar

O Deserto de Afar

O fascinante deserto de Afar é conhecido como o lugar mais quente do planeta.




O deserto Afar não tem nada que ver com outros desertos como o Saara, já que em vez de areia, está cheio de sal (porque antigamente foi um lago enorme). O fato de estar coberto de sal cria um cenário todo branco e fascinante.




Fica no Nordeste de África e estende-se a quatro países: Eritreia, Etiópia, Jibuti e Somália.
Os seus habitantes mais importantes são os Danaquil (ou Afares), de origem etíope, e os Issas, de origem somali. Estão divididos em centenas de tribos.
Os Afares e os Issas podem ser classificados em três grupos: pastores agricultores, que cultivam a terra junto das fontes de água e criam animais; pastores nómadas, que circulam com os rebanhos por terras onde haja erva; e os que optaram por viver nos centros urbanos.
Os agricultores cultivam sorgo, milho, trigo, sésamo, favas, batata-doce, bananas, melão e algodão. Os pastores criam camelos, ovelhas, cabras, cavalos e burros.

Os Afares

Os Afares são perto de dois milhões. Mais de metade vive no Leste da Etiópia. Cerca de 600 mil habitam no Sul da Eritreia; outros 600 mil ocupam todo o DJibuti, e uma minoria – cerca de 60 mil – moram na Somália. Este povo permanece nestes lugares há pelo menos 2800 anos. Eles foram os que sofreram mais com a independência da Eritreia em relação à Etiópia, e do Jibuti com respeito à Somália, porque esse facto dividiu famílias.
A sociedade afar divide-se em duas classes: os «Asaemara» são a nobreza, a classe dominante, os políticos, e os «Adaemara» são o «povo».
A maioria é nómada. Vivem da criação de gado: ovelhas, cabras, vacas e camelos. Alguns dedicam-se à extracção de sal.
Um afar para ser notável deve cumprir dois requisitos: ser um guerreiro forte e vingador e ter gado. A vingança é uma prova de honra e a maior demonstração de valor viril. As mulheres afares desprezam os pretendentes que nunca mataram um homem. Elas desejam alguém que ostente um bracelete de ferro, sinal indicador de que matou dez inimigos. Por outro lado, um adulto que não tem gado é um homem de pouco valor: ninguém dá importância à sua palavra. A opinião tem mais força e dignidade consoante o tamanho do rebanho.
Todos os acontecimentos importantes da vida social – nascimentos, iniciações, casamentos, alianças, mortes e sucessões – implicam doações, intercâmbios ou sacrifícios de gado.
A iniciação dos rapazes é a circuncisão e a das raparigas é a excisão (mutilação sexual feminina).
Os matrimónios são monogâmicos em geral. Os mais ricos podem ter mais mulheres. As jovens são dadas em matrimónio a partir dos dez anos. De preferência, os noivos são primos. Os pais do noivo pagam o dote da noiva.
Os Afares constroem as casas com estacas de madeira, erva seca e folhas de árvores. Tem um formato oval. As camas são esteiras. Montar o acampamento é responsabilidade das mulheres. Quando viajam, todo o material é carregado pelos camelos. Uma cerca com espinhos rodeia o acampamento, para prevenir os ataques de animais selvagens ou dos inimigos.
A carne, a manteiga e o leite são os principais alimentos dos Afares. O leite é um ingrediente importante na tradição da hospitalidade. Quando se dá leite quente a um hóspede, o anfitrião assegura-lhe total protecção e se, porventura, ele for assassinado, a sua morte é vingada como se fosse a de um membro do clã.
Os Afares converteram-se ao Islão no século X, depois do contacto com os árabes. Todavia, mantém alguns traços das religiões naturais. Por exemplo, crêem que certas árvores têm poderes sagrados. Em certos ritos ungem os corpos com uma espécie de manteiga. Atribuem um grande poder aos restos mortais das pessoas e, todos os anos, celebram a festa dos mortos, chamada «Rabena». Muitos levam amuletos de coro ao pescoço que contêm ervas e versos do Alcorão.

Os Issas

Quinze milhões de issas vivem espalhados por oito países no Nordeste de África. Nove milhões vivem na República da Somália, dois quais dois milhões são nómadas. Na Etiópia vivem entre três e cinco milhões.
Habitam em tendas feitas de peles e couros presos em varas de madeiras curvas. O curral dos animais fica perto das casas. São as mulheres que montam o acampamento que congrega a família alargada. No caso de poligamia, cada mulher tem uma tenda. O número de divórcios é elevado. A custódia dos filhos é decidida segundo os sexos: os pais ficam com os filhos e as mães com as filhas.
O primogénito da primeira esposa é quem herda a chefia. Em caso de guerra, o conselho dos chefes de família escolhe um líder para a ocasião.
Quando viajam, levam as estacas, a pele, o couro e outras madeiras nas costas de camelos. Quando encontram um local para se instalar, agrupam-se e fazem ao redor da área uma cerca com arbustos torcidos e espinhos.
São um dos grupos mais homogéneos de África: falam uma língua comum, professam o Islão como única fé e partilham a mesma herança cultural.
Cada clã issa identifica-se através da ligação a um antepassado comum e por ocuparem sempre os mesmos terrenos. A existência de poços é que dita a escolha destas propriedades.
As mulheres e as crianças pequenas cuidam das ovelhas e cabras, enquanto os homens e os rapazes mais crescidos apascentam os camelos e as vacas. Deles retiram o leite, o seu principal alimento. A carne é só para ocasiões especiais.
As crianças aprendem a história e as tradições do povo através da poesia. Os Issa têm uma memória extraordinária e cantarolam contos folclóricos para se divertir nas longas caminhadas durante a noite.
A seca, a fome e a guerra têm dispersado muitos para os países vizinhos e dividido os seus lares. Os que fugiram para o Iémen e a Etiópia enfrentam mais guerra, mais pobreza e mais rivalidade entre os clãs. A esperança de vida é de 46 anos.

Outras tribos

Na Eritreia, além dos Afares, vivem uns 107 mil Bejas. Eles foram os primeiros pastores de África (2700 a. C.). São hospitaleiros e gentis com os outros clãs mas facilmente litigam com os estrangeiros. Seguem um «islamismo popular», que é uma mistura da fé islâmica com as suas crenças tradicionais. Contêm tribos menores, como os Ababde, Hedareb, Bisharin e os Hadendoa.
No Centro deste país moram os Tigrinya e os Bilen; no Norte – e Nordeste da Etiópia –, os Tigre; no Sudoeste, os Saho, os Kunama e os Nara; e, no Noroeste, os Rashaida

Reino de Garo

Reino de Garo

O Reino da Garo ou Bosha foi um reino no sul da Etiópia tendo sua localização na região Gibe.

O reino de Garo teve fronteiras definitivas no norte com Janjero , no leste no rio Omo , e no sul o Rio Gojeb separava Garo do Reino de Kaffa. Na falta de um limite claro sobre as suas fronteiras ocidentais, os reis de Garo reino havian construído uma série de trincheiras e portões para se defender das invasões dos Oromo e do Reino de Jimma.

Garo sobreviveu como um estado independente até ao reinado de Abba Gomol de Jimma, que conquistou o que restou do reino Garo. Na época em que o imperador da Etiópia Haile Selassie , anexo Jimma, um descendente de Dagoye, o último rei de Garo, estava vivendo em um estado de "semi-exílio" em Jiren.

Reino de Janjero

Reino de Janjero

O Reino de Janjero ou Yamma foi um pequeno reino localizado no que hoje é a Etiópia. Ele ficava a oeste do Reino de Jimma e ao sul do Reino de Garo.

História

Janjero é mencionado pela primeira vez em uma canção de vitória de Yeshaq I para o pagamento de tributo em cavalos. Os primeiros reis de Janjero pertenceram à dinastia Halmam Gama, que foi expulso pelo clã Mwa vindo do norte.

Em 1844, os guerreiros do Reino de Jimma derrotaram o exército de Janjero, e o rei de Janjero foi feito prisioneiro. Ele recuperou a liberdade em 1847, e retomou sua luta contra seu poderoso vizinho mais.

Jimma conquistou grande parte de Janjero em 1880. O resto do reino foi anexado no reinado de Menelik II, em 1894, e seu último rei, Abba Bagibo, fugiu para Gurage, mas finalmente apresentou-se ao imperador Menelik.

Durante a reorganização das províncias em 1942, o antigo reino foi absorvido para tornar-se parte da província de Kaffa. No entanto, com a nova Constituição de 1995, a área de Janjero tornou-se o especial Woreda Yem, formando o enclave da Região Oeste do rio Omo.


Fonte: Wikipédia
Tradução e Edição: Marcus García.

Reino de Gera

Reino de Gera

O Reino de Gera foi um dos reinos da região Gibe na Etiópia, que surgiu no século 19

O Reino compartilhou sua fronteira norte com Gumma, a sua fronteira oriental com a Gomma, e foi separada do Reino de Kaffa, ao sul pelo rio Gojeb. A sua capital era chamada ou Chala ou Cira. Seu território corresponde, aproximadamente, com o moderno woreda de Gera.

História

De acordo com Beckingham e Huntingford, há evidências de que a monarquia de Gera existiam antes da migração do povo Oromo. No entanto, a mais velha dinastia terminou com o assassinato de Ganje Tulu em 1840 pelo rei Oncho de Guma, e um novo fundado por Abba Baso.

A população do reino foi estimada em 1880 entre 15.000 e 16.000. O plantio e a colheita de milho em Gera seguia um calendário diferente de Gibe e outros reinos, em Gera era feito o plantio em abril e a colheita em agosto, nos outros o plantio era em fevereiro e a colheita em julho. Hassen Mohammed acrescenta que Gera "foi uma terra rica em mel" e observa que o mel de Gera tinha uma reputação de o melhor mel da Etiópia. Hassen enumera oito tipos de mel cultivados em Gera, o melhor é o Ebichaa ("dark" de mel), a partir do qual foi feito um hidromel conhecido como dadhi, a bebida da realeza e personalidades da região de Gibe.

De acordo com Trimingham, o reino teve sua maior prosperidade sob o rei Abba Magal, que havia sido convertido ao Islã, pelo rei Abba Jubir de Gumma em 1866, embora, segundo o Trimingham um certo número de seus súditos ainda professavam o cristianismo. O rei Gibe foi responsável por esta conversão: Trimingham atribui essa conquista à Abba Jubir de Gumma; Hassen Mohammed dá o crédito inicial de Abba Bagibo de Limmu-Ennarea, que se ofereceu para apoiar Abba Magal em sua luta pelo trono, Abba Magal permitiu que missionários muçulmanos entrassem em seu reino, e só mais tarde é que Abba Jubir influenciou na convenção de Magal.
Na morte do Rei Abba Magal, sua esposa Genne Fa atuou como regente de seu filho, ambos se tornaram prisioneiros de Jimma quando Gera foi conquistada por Dejazmach Besha Abua em 1887.


Fontes: Wikipédia / www.spiritus-temporis.com
Tradução e Edição: Valter Pitta

Entre tribos selvagens

Entre tribos selvagens

Uma visita ao vale do Rio Omo, na Etiópia, um dos cantos mais isolados da África, onde as tribos guerreiam entre si como há milhares de anos


A festa dos nyagatons os guerreiros mais poderosos do vale do Rio Omo.

Depois de vinte dias navegando pelo Rio Omo, os sentidos começam a se adaptar. Especialmente o olfato. Não existem os perfumes, os cheiros e a poluição da civilização, que deixam o nariz atordoado. Aqui é o sertão do vale do Rio Omo, na Etiópia, a 800 quilômetros de Adis-Abeba. As duas margens do rio são altas, mas pelo cheiro dá para saber o que acontece acima do barranco. O odor da madeira queimada significa que alguém está acampando, o de excremento de gado é sinal de que estão tocando o rebanho em direção ao rio. Todas essas informações são trazidas a distância pela brisa morna. Desta vez, o cheiro de gado chega bem antes do ruído das reses e da visão dos guerreiros nyagatons, na contraluz, imóveis debaixo do sol da tarde, no alto da margem. O calor é de quase 40 graus, e os guerreiros contemplam, em silêncio, o pequeno barco em que viajamos.


Guerreiros Nyagatons.

O comportamento-padrão dos nyagatons é intimidatório, seja pela atitude, pela maneira de falar ou pelo armamento que carregam (desse lado do rio todos usam o G3, um fuzil de assalto alemão, com maior poder de fogo do que o AK-47, mais comum na região), e eles estão em guerra, expulsando as outras tribos. No momento estão de olho na tribo dos mursis, que, para escapar às emboscadas constantes, se retiraram para as montanhas. A atitude agressiva muda quando percebem que nosso guia é também um nyagatom. As apresentações são feitas, e tudo fica combinado: quando voltarmos amanhã encontraremos uma multidão de guerreiros que deixarão as armas de lado para dançar com as mulheres da tribo. Alegres, festejarão a presença de estrangeiros.




O acesso por terra ao vale do Rio Omo é precário. O melhor caminho é pelo rio, mas só quando está cheio, logo após a estação das chuvas, que termina em setembro. Um único empreendedor, o holandês Hallewjin Schurman, montou acampamentos na região e leva para lá pequenos grupos de turistas em barcos motorizados. É uma viagem fascinante a um mundo perdido. Entre o acampamento e os nyagatons navegamos quatro horas contra a correnteza do Omo, que, cheio de curvas, desliza entre matas de figueiras e tamarindos, cerrados e desertos. Sempre em alta velocidade, e em ziguezague, evitamos os pedaços de madeira que o rio arrasta e os hipopótamos que, sem avisar, emergem à nossa frente. Crocodilos de todos os tamanhos, alguns leões e um par de leopardos nos contemplaram indiferentes. Encontrar os nyagatons é um momento mágico emoldurado por uma paisagem bela e selvagem.

A Etiópia é o único país do continente africano que nunca foi colônia européia. Na década de 70, o último imperador, Haile Selassie, foi deposto por um violento golpe de Estado de orientação marxista, e a normalidade só voltou em 1995. Com suas verdes montanhas de picos impressionantes, seus vales cultivados e rios caudalosos, a Etiópia é uma espécie de caixa-d'água da África Oriental. O Nilo Azul, por exemplo, nasce nas montanhas etíopes. Apesar disso, o país é lembrado sobretudo pela fome tristemente famosa e pela guerra com a Eritréia, que terminou em 2000. O vale do Rio Omo, na fronteira com o Sudão e o Quênia, é uma área de mais de 4.000 quilômetros quadrados com intensa vida tribal e muito pouco visitada.


Delta do rio Omo.

O rio, que nasce ao sudoeste de Adis-Abeba, capital da Etiópia, percorre quase 1.000 quilômetros, mas não chega ao mar. É o principal afluente do Lago Turkana, no Quênia. O Omo divide a vida no vale: ao leste, as tribos dos karos, dos hamares e dos mursis. Do outro lado, os nyagatons e os quegos. Todos vivem da criação de gado. Mesmo os dassanechs, mais ao sul, na entrada do Lago Turkana, apesar de cultivar o sorgo (o cereal é armazenado em pequenas bolas feitas com galhos secos no alto de torres precariamente construídas para evitar a umidade), também são criadores de gado.


Guerreiros karos, que recentemente abandonaram a vida nômade
e agora vivem em três aldeias. Além do fuzil, cada homem
também leva um banquinho para não sentar no chão.


Casal karo diante de sua casa.

O aumento da população e dos rebanhos tornou letal a disputa por território. A única maneira de expandir o próprio domínio é com a ajuda dos fuzis AK-47 que cada habitante do vale carrega displicentemente no ombro. Uma bala custa 25 centavos de real. Os hamares vivem nas montanhas e praticam uma economia de subsistência agropastoril. Organizam-se segundo um elaborado sistema de agrupamento social por idade. Passar de um grupo a outro envolve complicados rituais. A maturidade, dizem misteriosamente os mais velhos, só acontece quando o coração chega aos olhos. Os mursis são reconhecíveis pelos desenhos brancos que cobrem seu corpo e pelo pedaço circular de madeira que as mulheres usam no lábio inferior. A origem do adereço está nos tempos em que os mursis eram perseguidos para ser vendidos como escravos. Foi a maneira encontrada para tornar as mulheres menos atrativas. Hoje é um sinal de beleza. Os karos são pouco mais de 1.500 e abandonaram alguns anos atrás a vida nômade. Vivem essencialmente em três aldeias – Labuck, Duss e Korcho – e praticam um rígido controle de natalidade. Crianças nascidas fora do casamento são deixadas para morrer debaixo de um arbusto com a boca cheia de areia.


Quando os mursis eram perseguidos por caçadores de
escravos, suas mulheres tentaram ficar feias com a
deformação do lábio. Hoje, tribo acha bonito o ornamento.


Guarda nyagatom na beira do Rio Omo. O nome
da tribo significa "comedores de elefantes".

Os quegos são os menos numerosos. Eram escravos dos karos, mas recentemente foram liberados pelos nyagatons, a tribo mais numerosa e feroz. A palavra nyagatom significa "comedores de elefantes", e eles se esforçam para demonstrar que são realmente destemidos. Caçam crocodilos em pé sobre uma canoa, armados apenas de um arpão, ou passam temporadas servindo como mercenários para os conflitos do vizinho Sudão (a fronteira está a menos de 100 quilômetros dali). A circuncisão masculina e a infibulação feminina, as punições por chicotadas, tudo continua sendo feito da mesma maneira através de gerações. As crianças aprendem desde cedo que não existe a palavra "ladrão". Roubar é permitido, mas quem é apanhado acaba chicoteado.
A prática da escarificação e da pintura corporal atinge patamares sofisticadíssimos. Para eles, a escarificação é um atestado de bravura. Um guerreiro não pode ostentar nenhuma cicatriz até que tenha matado um inimigo. Para uma mulher, as cicatrizes são uma maneira de ficar atrativas para os homens. As escarificações são feitas com facas, pedras ou pregos. Depois a ferida é coberta com cinzas. Isso provoca uma pequena infecção, que, mais tarde, vai deixar a marca com relevo na superfície da pele. Com suas tradições preservadas, o vale do Rio Omo é um museu de história natural ao vivo e em três dimensões.

.:: Revista Veja Online

A fé que corta montanhas (Lalibela).

A fé que corta montanhas

Na desolada cidade de Lalibela, na Etiópia, 11 igrejas cristãs foram esculpidas na rocha há 800 anos. Fomos ao coração da África para contar esse verdadeiro mistério da fé, intacto até hoje

A entrada de uma das igrejas de Lalibela que ajudam
a manter o cristianismo na Etiópia já há oito séculos.

Vista da janela do hotel, ao amanhecer, a cena parece medieval. Na encosta da montanha, as igrejas de Lalibela, na Etiópia, não se deixam ver. É possível distinguir apenas os peregrinos, vestidos de branco, lentamente subindo a ladeira para, de repente, desaparecerem no interior da rocha dura e escura. Tudo sem barulho, quase em câmera lenta.

As igrejas de Lalibela impressionam. Invisíveis ao viajante desatento, foram escavadas num maciço rochoso há 800 anos. Bem perto umas das outras, são interligadas por valas e túneis cortados fundo na montanha. Dedicado ao culto cristão ortodoxo, por séculos a religião oficial do país, o santuário reúne 11 templos, alguns com mais de uma nave e abóbadas de 10 metros de altura.

A despeito de seu raríssimo conjunto arquitetônico, reconhecido pela Unesco como Patrimônio Histórico da Humanidade, Lalibela é um daqueles lugares de que poucos ouviram falar e menos ainda o conhecem. Por muito tempo permaneceu inacessível, a não ser aos peregrinos mais decididos. A cidade está numa área montanhosa, a 2 630 metros de altitude. Até recentemente, as estradas que levavam a Lalibela eram intransitáveis, a luz elétrica era desconhecida e ainda hoje não existe banco nem farmácia. O mundo, ali, anda em outro compasso.

O calendário é o juliano, criado por Júlio César em 45 a.C. para unificar as datas na vastidão do Império Romano. A adoção do calendário gregoriano, em 1582, não chegou ali.

Raro país da África nunca colonizado por metrópoles européias (a ocupação italiana durante a Segunda Guerra Mundial durou menos de dez anos), até a década de 70 a Etiópia era governada por reis e imperadores. Foi no século 12, durante o reinado do cristão copta Lalibela, de quem a cidade herdou o nome, que se ergueram suas igrejas. Diz a lenda, e diz também o guia que inevitavelmente acompanha o visitante morro acima e escada abaixo, que, antes de ser consagrado rei, Lalibela esteve exilado em Jerusalém, onde teria se deslumbrado com a beleza dos templos locais. E, assim segue a lenda, os anjos o ajudariam, anos depois, a esculpir sua adoração na rocha.

Um pouco de história. A conexão entre o povo da Etiópia e o de Jerusalém é antiga. A dinastia dos imperadores etíopes, encerrada com Haile Selassie (1892-1975), era conhecida como salomônica. Eles acreditavam descender diretamente do rei Salomão. Existem mais de 30 referências à Etiópia no Velho Testamento. A bela rainha de Sabá, etíope, seduziu o rei Salomão em Jerusalém e de lá voltou grávida do futuro rei Menelik, um dos mais poderosos governantes da história do país africano. O mesmo Menelik que, em uma de suas visitas ao pai, o rei Salomão, decidiu levar a Arca da Aliança para... a Etiópia. Diz-se que ainda hoje a arca original está escondida em algum lugar por ali. Onde exatamente? Uma pegadinha clássica a turistas mediante o pagamento de pequena soma - que pode aumentar de acordo com a cara de palerma do aventureiro. Não diga que não avisamos.

Voltando às igrejas submersas. No regresso de seu exílio, tendo se consagrado rei, Lalibela fez com que sua "Nova Jerusalém" fosse construída abaixo do nível do solo por pura estratégia. Assim, quando os mercadores muçulmanos aparecessem pela região à procura de novos escravos, os cristãos etíopes e seus templos tinham maior chance de passar desapercebidos - só quem caísse literalmente na armadilha, e com sorte se recuperasse do tombo, poderia encontrar o caminho para o esconderijo.

As construções são peculiares. No começo eram trincheiras de 3 metros de largura por 10 metros de profundidade, escavadas em torno de um maciço de pedra. Numa das faces do bloco que surgia, uma porta era aberta e, a partir dela, as naves cresciam no interior da rocha. Grande volume de matéria vulcânica foi retirado, dando lugar a diferentes ambientes. Tudo é de pedra, claro, as paredes, o chão, as colunas e o teto sem emenda. É como se um daqueles castelos de areia feitos na Praia de Copacabana fosse levantado em tamanho natural para que um homem pudesse passear por dentro.

Ao entrar no recinto, o visitante é convidado a tirar o sapato. Seja por causa da umidade, seja pelo excesso de tapetes que recobrem o chão ou pela falta de cuidado, o lugar é dominado por pulgas - se sua presença de espírito o tiver levado a guardar aquelas meias descartáveis distribuídas pela companhia aérea no vôo intercontinental, elas poderão ser usadas como proteção.

Cada uma das 11 igrejas tem um monge encarregado dos serviços religiosos - Lalibela é ainda hoje um centro de peregrinação. Na parte oposta à entrada, sempre protegida por uma cortina desgastada pelo tempo, está a arca onde é guardada a cruz. Se o dia não é de movimento e o monge tiver boa vontade, ele poderá mostrá-la a você. Ela é de ouro, bem, talvez, e foi carregada pelo rei Lalibela durante as batalhas e celebrações que marcaram seu reinado de glória. Se a história do monge é verdadeira? Ninguém
sabe ao certo, assim como até hoje nenhum arqueólogo desvendou o mistério da construção de suas igrejas - engenheiros estimam que pelos menos 40 mil homens teriam trabalhado freneticamente, dia e noite, durante anos a fio, para escavar os templos na rocha vulcânica.

Em Lalibela, enquanto os fiéis entoam seus cânticos e os peregrinos perseguem sua história, o passado ainda não encontrou o presente.

As Igrejas foram consideradas Patrimônio Histórico-Cultural da Humanidade, pela UNESCO em 1978. Elas são divididas em quatro grupos:
As Igrejas do Norte: Casa do Salvador do Mundo, Casa de Maria, Casa Gólgota, Capela Selassie e do Túmulo de Adão.
As Igrejas Ocidentais: A Casa de São Jorge; a mais preservada e bela das treze igrejas.
As Igrejas Orientais: Casa de Emanuel, Casa de Gabriel, Casa Abba Libanos
E os monastérios de Ashetan Maryam e Yimrehane Kristos.
A Casa do Salvador do Mundo é a maior delas, e também é a maior igreja do mundo construída em pedras.
Ainda há monges negros seguidores da igreja etíope que moram nessas cavernas. A liturgia das doze igrejas continua a ser no Ge'ez antigo. O incenso queimado em rituais religiosos de hoje foram herdados do antigo cristianismo etíope. O Cristianismo da Etiópia é um dos mais antigos do mundo, tem cerca de 1600 anos. A teologia da Igreja Ortodoxa Etíope mantém ritos do Antigo Testamento, como a guarda do sábado, a circuncisão no oitavo dia após o nascimento, a abstenção da carne de porco.
Através de monges da Igreja da Síria, adotaram o monofisismo, doutrina que acredita que Cristo existia em apenas uma natureza, a divina. E que Jesus, portanto, não era uma pessoa humana e não tinha uma alma como os outros. Os monofisistas acreditam que após a encarnação, a natureza divina tinha absorvido a natureza humana em Jesus. Esse pensamento foi considerado herético pelas Igrejas européias.

         

Fonte: Revista Viagem e o livro "A Historia da Africa Oriental".                   



Reino de Axum (Resumo)

Reino de Axum

Axum foi um reino africano que se tornou conhecido pelos povos da região, incluindo o Mediterrâneo, por volta do século I.



Tinha a sua capital na cidade de Aksum, na atual Etiópia, embora as cidades mais prósperas fossem os portos do Mar Vermelho de Adulis e Matara, na actual Eritreia. Tal como, mais tarde, os reis da Etiópia acreditavam ser descendentes do rei Salomão e da Rainha de Sabá, os monarcas axumitas tinham a mesma crença,porém antes da cristianização,eles adoravam divindades dos sabeus e Attar (forma masculina da deusa Astarte) além de varios outros deuses.



Aparentemente, este reino começou a estabelecer-se nesta região no século V a.C., uma vez que muitos dos monumentos de Aksum são dessa altura. No entanto, não há muita informação sobre esses tempos antigos, até Axum atingir o seu apogeu. No século II, Axum adquiriu estados na Península Arábica, conquistou o norte da Etiópia e, finalmente, o estado de Kush, cerca do ano 350. Os axumitas controlavam uma das mais importantes rotas comerciais do mundo e ocupavam uma das mais férteis regiões no Mundo. Aksum encontrava-se directamente no caminho das crescentes rotas comerciais entre a África, a Arábia e a Índia e, como resultado, tornou-se fabulosamente rica e as suas maiores cidades tornaram-se centros cosmopolitas, com populações de judeus, núbios, cristãos e até budistas.

No século IV, o rei Ezana adoptou o cristianismo e foi baptizado como Abriha. O reino de Axum foi o primeiro estado africano a cunhar a sua própria moeda, aparentemente começando no reinado de Endubis (cerca de 270) até ao de Armah (aproximadamente 610). Este estado criou igualmente, também no século III o seu próprio alfabeto, denominado ge'ez (que corresponde igualmente a uma língua ainda falada na região.

Fonte: Templo de Almaqah.

Reino de Sabá

Reino de Sabá

Sabá (em hebraico: שבא, transl. Sh'va, árabe: سبأ, Sabaʼ, ge'ez, amárico e tigrínia: ሳባ, Saba) foi um antigo reino mencionado nas escrituras judaicas (o Antigo Testamento cristão) e no Alcorão. Sua exata localização histórica é disputada pela região sul da península Arábica e o leste da África; o reino poderia tanto situar-se na atual Etiópia, no atual Iêmen, ou até mesmo em ambos.


Templo de Bar'an, em Ma'rib - construído no século
XVIII a.C., e em uso por quase 1000 anos.

O templo mais antigo da Arábia, chamado Mahram Bilqis ("palácio de Bilqis", nome árabe para a rainha de Sabá), foi descoberto recentemente em Ma'rib, sul do Iêmen, considerada por muitos como a capital de Sabá. Esta cidade foi construída entre o segundo e o primeiro milênios antes de Cristo. Localizada numa situação estratégica, Sabá floresceu através do comércio de mercadorias, tanto da Ásia, como de África, incluindo o café, proveniente da região etíope de Kefa.

Aparentemente, Sabá era uma sociedade matrilinear, em que o poder é passado aos descendentes pela via feminina. Provavelmente, a população de Sabá seria uma mistura de povos africanos e da Arábia e, de facto, estudos linguísticos recentes indicam que as línguas semitas do Oriente Médio podem ter-se originado a partir das línguas cuchíticas da Etiópia. Por outro lado, na África oriental ainda se encontram muitos grupos étnicos com tradição matrilinear.

Tradição bíblica

O reino de Sabá é mencionado diversas vezes na Bíblia. Por exemplo, na Tábua das Nações (Gênesis, 10:7), Sabá, juntamente com Dedã, é listado como um dos descendentes de Cam, filho de Noé (como filhos de Raamá, por sua vez filho de Cuxe). Em Gênesis, 25:3, Sabá e Dedã são listados como os nomes dos filhos de Jocsã, filho de Abraão. Outro Sabá também é listado na Tábua das Nações como filho de Joctã, outro dos descendentes de Shem.
Na tradição ortodoxa etíope, o últimos destes três Sabás, o filho de Joctã, é considerado o antepassado primordial do componente original semita na sua etnogênese, enquanto Sabtá e Sabtecá, filhos de Cush, são considerados como os ancestrais do elemento cuchítico.

O historiador judaico-romano Flávio Josefo descreve o lugar chamado de Sabá como uma cidade real, cercada por muros, na Etiópia, que Cambises teria chamado posteriormente de Meroé. Segundo ele, "ela era cercada bem de longe pelo Nilo, além de outros rios, o Astápo e o Astabora", o que oferecia proteção tanto de exércitos inimigos quanto das cheias dos rios. De acordo com Josefo, a conquista de Sabá teria trazido grande fama a um jovem príncipe egípcio, ao mesmo tempo em que expôs seu passado pessoal como uma criança escrava chamada Moisés.

O Kitab al-Magall ("Livro dos Rolos", considerado parte da literatura clementina) e a Caverna dos Tesouros mencionam uma tradição na qual, após o reino ter sido fundado pelos filhos de Sabá (filho de Joctã), houve uma sucessão de sessenta governantes mulheres até a época solomônica. A tradição bíblica da "Rainha de Sabá" (conhecida por Makeda na tradição etíope e Bilqis na tradição islâmica) faz a sua primeira aparição na literatura mundial no Livro de Reis (1:10), que descreve sua viagem para Jerusalém, atrás da fama do rei Salomão.

Graças à sua ligação com o mito da rainha, Sabá tornou-se uma localidade muito ligada a um certo prestígio nacional, e diversas dinastias reais já alegaram descendência da união entre a rainha de Sabá e o rei Salomão, principalmente na Etiópia e na Eritréia, onde Sabá esteve tradicionalmente ligada ao antigo reino axumita.

Fonte: Templo de Almaqah.